A crise vai deixar gente doente de verdade

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Veja abaixo matéria do jornalista Luiz Caversan da Folha de São Paulo que fala sobre a crise atual do país e a depressão com participação do Dr. Jair Mari.

A crise vai deixar gente doente de verdade

Parece que está todo mundo doente, disse estes dias um amigo, observador profundo da realidade brasileira e de suas múltiplas vicissitudes –crise econômica, política, tica, moral…

Explicou melhor: as pessoas estão ou decepcionadas ou tristes ou com raiva ou alternam estes sentimentos de uma hora para a outra, às vezes querendo sumir ou chorar, às vezes querendo bater, querendo quebrar, querendo gritar; todo mundo fala, todo mundo berra, mas ninguém ouve.

Antes de mais nada, um aviso: meu amigo no faz distinções políticas em sua análise, tampouco eu, ao concordar com ele.

Como se pode ver nas ruas, na internet ou em qualquer lugar onde haja mais de uma pessoa, a trilogia de sentimentos frustração-tristeza-raiva no privilégio deste ou daquele partido, de tal ou qual tendência ideológica, de quem a favor ou contra o que quer que seja.

Tristes, frustradas, raivosas, o fato que muita gente está apresentando sintomas de doenças, de transtornos mentais que em geral são passageiros, mas certamente agora, pelo seu volume e intensidade, vão, para usar uma expresso médica, deixar graves sequelas.

Muito mal comparando, quando a crise econômica acachapou a Espanha, jogando quase a metade de seus jovens no desemprego e no desalento, o número de pessoas com depressão aumentou assustadoramente. Assim como a ainda mais grave crise da Grécia, que quando destroçou o país deixou um rastro de pessoas também destroçadas emocional e psicologicamente, de dar dó.

E isso o que acontece mesmo nestes casos, e isso o que de alguma forma vai acontecer no Brasil, embora ao menos economicamente o Brasil esteja ainda longe da derrocada que atingiu os dois países citados.
Vai acontecer, resta saber quando e em que intensidade.

Não se trata de especulação, tampouco de achismos, mas de constatação a partir de dados científicos epidemiológicos (epidemiologia, como se sabe, o ramo da medicina que estuda quantitativamente as doenças e seus fenômenos condicionantes, como propagação na sociedade, grau de incidência, intensidade etc.).

Segundo o psiquiatra Jair Mari, professor-titular da Escola Paulista de Medicina, a coisa funciona mais ou menos assim: se todos diminuem a velocidade dos carros nas ruas de uma cidade, o número de acidentes também diminui. Dentro desta lógica, e no sentido oposto, se o nível de sintomas depressivos aumenta numa faixa expressiva da população, você certamente ver aumentado o número de novos casos desta doença.

Se entendermos que a tristeza das pessoas, a frustração delas e a raiva que destilam em funo da alta temperatura política e econômica e social são substratos de uma base depressiva, teremos o aumento da depresso, o aumento dos casos graves de depresso e, em último caso, aumento de suicídios –o fundo do fundo do poo do processo depressivo.

Para sustentar esta tese, e ainda ficando no campo da epidemiologia, podemos recorrer ainda ao emérito cientista inglês Geoffrey Rose (1926-1993), médico epidemiologista inglês referência em sua rea por conta do estudo “Sick Individuals and Sick Populations” e do livro “The Strategy of Preventive Medicine” (respectivamente “Indivíduos Doentes e Populações Doentes” e “A Estratégia da Medicina Preventiva”, em tradução livre).

Segundo Rose, “h forte relação entre os comportamentos populacionais médios e os desviantes, como resultado da dinâmica entre foras biológicas e sociais, que favorecem ou limitam a diversidade de características individuais. Assim, o risco de alguns agravos, em populações concretas, torna-se alto ou baixo em virtude do deslocamento em bloco da distribuição populacional, e no em funo do número de indivíduos na faixa de alto risco.” (Cadernos de Sade Pública, Rio de Janeiro, 2000).

Trocando em miúdos, isso: comportamentos de fundo depressivo em parte significativa da população acarretam o aumento de problemas relacionados depresso em gente que no estaria propensa a este tipo de problema.

Ou seja, além de tudo, esta tal crise na qual nos enfiamos até o pescoço vai deixar muita gente mentalmente doente. Haja Prozac, Zyban, Zoloft e Rivotril…

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