Depressão é a enfermidade mais comum, segundo levantamento da Unifesp.
Casos dão gasto de R$ 2,2 bilhões anuais com auxílios-doença pela Previdência Social.
As doenças mentais são responsáveis por cinco das dez principais causas de afastamento do trabalho no País — sendo a primeira delas a depressão –, o que representa um gasto de R$ 2,2 bilhões por ano, o equivalente a 19% dos custos com auxílios-doença pagos pela Previdência Social a um universo de 1,5 milhão de pessoas. Os números aparecem num levantamento sobre a infra-estrutura dos serviços de saúde mental no Brasil feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo foi divulgado nesta terça-feira (20) no seminário Ação Global para o Aprimoramento Mundial da Saúde Mental, parte de uma iniciativa da publicação científica inglesa “The Lancet”, que neste mês compilou uma série de artigos sobre saúde mental e seus impactos em vários países, entre eles o Brasil.
“As doenças mentais são as que mais incapacitam as pessoas e os gastos com a assistência representam apenas 2% do orçamento do Ministério da Saúde. Observamos um grande descompasso entre o impacto das doenças e o investimento no cuidado com elas”, afirma o psiquiatra Jair Mari, professor da Unifesp e responsável pela pesquisa. Ele enumera os problemas: depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, abuso de álcool e episódios de violência, que podem estar relacionados com várias patologias.
Sem diagnóstico precoce, sem acompanhamento adequado, essas pessoas aparecem na rede quando já estão totalmente incapacitadas e as doenças atingiram um estágio crônico. “Para lidarmos com tudo isso, o relatório aponta para a necessidade de essa fatia do orçamento aumentar para cerca de 5%, para conseguirmos melhorar a rede de atendimento, principalmente a atenção primária, que pode ser feita em parceira com as equipes do Programa Saúde da Família, que precisam ser treinadas”, completa.
Esse é justamente um dos principais desafios apontados pelo estudo: apesar de a rede estar aumentando, ainda não há locais suficientes para assistência a portadores de transtornos mentais. A oferta cresceu depois do início da reforma psiquiátrica, que prevê a desativação dos antigos manicômios por centros de atendimento psicossocial, chamados Caps, e por leitos de internação em hospitais gerais.
Outro problema é a distribuição desigual tanto dos serviços quanto dos especialistas: somente em São Paulo, há quase o dobro dos psiquiatras de todo o restante do País. Atualmente, existem 5,2 mil psiquiatras em exercício no Brasil, uma média de 2,83 profissionais para cada 10 mil habitantes. Na América Latina, são 4,66 profissionais para cada 10 mil habitantes.
As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.